terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Com cooperativa, famílias de seringal recorrem a manejo para extração de madeira

O seringal que é símbolo da resistência da luta de Chico Mendes e outras lideranças seringueiras contra a “invasão” dos “paulistas” na Amazônia durante a década de 1980 e a transformação da floresta em pasto, é hoje uma espécie de laboratório para a recuperação da economia extrativista do Acre. 
 
Falido com o fim dos ciclos da borracha e a consolidação da pecuária, o extrativismo vegetal mantêm experiências de resistência para garantir uma renda considerável a quem ainda acorda de madrugada para a extração do látex ou a coleta da castanha. 
 
As políticas do governo acreano nos últimos anos tiveram papel fundamental para evitar a bancarrota completa do Seringal Cachoeira, em Xapuri, além de outras colocações. A política de subsídio que incrementou o preço de produtos florestais e a construção de empreendimentos para a compra da matéria-prima são tidas como vitais neste processo. 
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Paralelo a isso, outro ingrediente ajudou a fortalecer a economia extrativista: a união dos seringueiros em sistema de cooperativas. Com as cooperativas, eles profissionalizaram o modelo de extração e comercialização, acabaram com a figura do “atravessador” que colocava para baixo os preços dos produtos, aumentaram a renda e viraram seus próprios patrões. 
 
De uma renda média anual inferior a R$ 300 até 1999, os seringueiros do Cachoeira conseguem obter até R$ 8.000 por ano. Desde 2005 um novo produto passou a fazer parte deste pacote da floresta: a madeira. A criação da Cooperfloresta foi essencial para que esta renda duplicasse de valor. 
 
Eles passaram a adotar o manejo madeireiro comunitário, que consiste na adoção de práticas que causem o menor dano possível à floresta com a retirada das árvores. Nenhuma tora é vendida de forma ilegal, mas com o devido licenciamento dos órgãos ambientais. Em algumas comunidades o selo-verde assegura um valor maior à madeira no mercado. 
 
Uma delas é a PAE (Projeto de Assentamento Agroextrativista) Chico Mendes, em Xapuri; Raimundo Monteiro de Morais, 74, é um dos cooperados que presenciou dos tempos fartos do extrativismo, à decadência e agora a recuperação. 
 
Para ele, o sistema de cooperativa foi essencial por garantir a sobrevivência de sua principal fonte de renda. “A cooperativa foi como a conquista de nossa independência, sendo essencial para o nosso crescimento”, diz Monteiro, que agora prepara os filhos para também viverem da economia extrativista. 
 
A Cooperfloresta espera para 2014 o licenciamento de 70.000 metros cúbicos para exploração em manejo comunitário, o que renderá lucro de até R$ 3 milhões. Cada cooperado recebe conforme sua produção, enquanto em outra comunidade o valor total é dividido de forma igual. Ao todo a cooperativa tem 154 membros, com perspectiva de chegar a 210 até o fim do ano. 
 
As vendas se concentram mais no mercado local por conta das condições necessárias para a exportação. O objetivo para os próximos anos é o aprimoramento com a compra de maquinário para o beneficiamento da madeira, de olho em outros Estados e países. 
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Impactos reduzidos
Por conta das especificidades da região, o manejo comunitário precisa seguir ciclos. Neste período de inverno amazônico a extração de madeira fica parada por conta dos impactos do transporte das toras nas estradas vicinais, também conhecidas como ramal. Para manter o selo-verde, a comunidade precisa seguir rigorosos padrões, sendo a redução dos impactos também nas estradas um deles.
 
A perspectiva é que a partir de maio os cooperados estejam prontos para o retorno das atividades. Enquanto a retirada de madeira está suspensa, eles vivem da coleta da castanha, o produto florestal com garantia de venda e bom retorno. O látex resiste por conta de seu principal comprador: a fábrica de preservativos de  Xapuri, a Natex. 
 
O modelo do Seringal Cachoeira mostra que somente as políticas de governo não são suficientes para garantir o dinamismo da atividade econômica. A organização dos beneficiados é essencial para a viabilidade do negócio. Mesmo que ainda jovens no Acre, as cooperativas se mostram o melhor sistema para a sustentabilidade (em todos os seus aspectos) destas famílias. 
FONTE: ac24horas     

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