quarta-feira, 25 de julho de 2012

“A oposição não tem projeto para o Acre”


Por Archibaldo Antunes
Os anos de militância na oposição foram fundamentais para que o professor Carlos Augusto Coêlho de Farias, 49 anos, pudesse estabelecer nítidas diferenças entre a Frente Popular do Acre e a oposição, capitaneada pelo senador Sérgio Petecão, os deputados federais Marcio Bittar e Flaviano Melo e pelo candidato tucano à Prefeitura da Capital, Tião Bocalom. A principal delas, afirma, é que a FPA, mesmo com a necessidade de reformular alguns planos e metas após mais de uma década de poder, apresenta a grande vantagem de possuir um projeto para o Estado. Enquanto isso, diz ele, a oposição passa os anos a se consumir na fogueira das vaidades e na guerra dos projetos pessoais.
politica_250712_5.jpg
NOVO secretário-geral do PEN, Coêlho afirma que na oposição tentou realizar seminários, mas não viu interesse das
lideranças em debater os problemas do Acre
Coêlho foi recentemente nomeado para o cargo de secretário-geral do PEN (Partido Ecológico Nacional), que no Acre é comandado pelo deputado estadual Astério Moreira. No plano profissional, ele se empenha na consolidação da empresa que acaba de montar com o filho Tacio Farias. O novo empreendimento vai atuar no mercado oferecendo assessoria e consultoria política, além de capacitação profissional.
politica_250712_6.jpg
SENADOR do PSD já não é o mesmo
de antes: “O poder lhe subiu à cabeça”
Servidor da Assembleia Legislativa há 32 anos, primeiro-suplente de senador, casado, pais de filhos, Coêlho diz que o convite para integrar o PEN como secretário-geral é um reconhecimento às campanhas que coordenou e à longa trajetória de militância no PMN, como fiel escudeiro do agora senador Sérgio Petecão. Rompidos há oito meses, os dois não se falam desde então. Sobre Petecão, o professor afirma que o “poder lhe subiu à cabeça”.

A seguir a entrevista que Coêlho concedeu na tarde de ontem, em uma livraria do centro de Rio Branco:

Vamos começar pelo por que da sua guinada política…
Coêlho – Militei no PMN desde 1999, quando o partido estava na Frente Popular. Exerci o cargo de vice-presidente e secretário geral. Trabalhamos na campanha do [prefeito Raimundo] Angelim e do [ex-governador] Binho [Marques]. Em 2006 o PMN tomou a decisão de ir para a oposição e nós acompanhamos o Petecão, que em 2008 foi candidato a deputado federal. Depois de eleito senador, houve nosso rompimento político, o afastamento por parte dele. Há oito meses que não recebo um telefonema dele.

O que houve entre vocês?

Eu tinha muito respeito pelo Petecão. Coordenei todas as campanhas dele. Tenho facilidade para fazer leitura do contexto político, de mobilizar, de agregar, de me comunicar com as pessoas. Mas meu maior capital político chama-se lealdade. Sempre agi com lealdade em todas as causas que abracei. Mas depois da eleição para senador, Petecão me fez uma acusação que não pude suportar porque tenho dignidade e amor próprio.

Que acusação foi essa?

Ele veio me dizer que eu estava orquestrando um dossiê contra ele. Era uma acusação baseada no disse me disse, na fofoca. Quem me conhece sabe o que fiz pelo Petecão. E para mim, se uma relação não tem respeito e confiança, não faz mais sentido.

Como o senhor avalia a atuação dele no Senado?

Petecão sempre foi um homem popular, o que mudou muito. Ele sempre deu atenção às pessoas, mas cheguei a ver ele, depois de eleito senador, destratar alguns eleitores antigos, não dar atenção a eles. O poder lhe subiu à cabeça. Ninguém votou no Petecão achando que ele apresentaria um projeto extraordinário no Senado, que faria um mandato voltado às grandes questões socioeconômicas, políticas ou culturais do Acre. Quem votou nele sabia que ele é uma pessoa limitada.

Vamos voltar à sua experiência na oposição. O que foi possível aprender com ela?

Ante as argumentações da Frente Popular de que a oposição não tem projeto, eu tentei, dentro dos meus conhecimentos, mobilizar as lideranças de oposição para um seminário para discutir, ouvir a sociedade civil organizada no sentido de definirmos políticas públicas. Tentei fazer isso, mas não consegui. Desconheço um projeto da oposição para o Acre, seja para o governo estadual ou pros municípios. O que existe é o pensamento de algumas pessoas, casos isolados, sem discussão. E a minha intenção era justamente fazer esse trabalho, ouvindo a sociedade.

E por que não foi possível construir um projeto alternativo ao da Frente Popular?

Não percebi nenhum interesse, esse tempo todo, em definir metas e prioridades, em buscar junto à sociedade uma maneira diferente de fazer política. Houve resistência por parte de algumas pessoas. Não sei nem dizer o motivo. Quando se tem visão e se quer desenvolver o Estado, o certo é ter compromisso político, com mais eficácia, com mais veemência. Agora, se você é candidato uma, duas, três, quatro, cinco vezes e não sabe aonde quer chegar… Eu vi que não havia preocupação de onde chegar com o projeto. Percebi muito nitidamente a preocupação individual, cada qual pensando apenas em si mesmo. E a prova é tamanha que não conseguiram, nas eleições deste ano, unir os partidos de oposição em torno de uma única candidatura.

E sobre este mesmo assunto, o que o senhor tem a dizer sobre a Frente Popular?

A Frente Popular tem um projeto. Existem falhas, é verdade. Se faz necessário ajustar algumas coisas de acordo com o contexto social em que vivemos, mas a Frente Popular, ao contrário da oposição, tem projeto para o Acre.

Por que, afinal de contas, os caciques da oposição não se entendem?

Além dos interesses pessoais conflitantes, e do desejo de ocupar os espaços políticos, eu percebo que a eleição de 2014 é um fator determinante [para o desentendimento]. O PSDB tem, de um lado, o Marcio Bittar querendo ser candidato ao governo, e por isso ele assumiu o diretório regional do partido, abrindo mão de disputar a prefeitura. Do outro lado o Petecão se juntou ao Flaviano, e iniciaram um namoro político com o [deputado federal] Gladson [Cameli], o que não foi muito longe porque o PP se juntou ao PSDB na capital, o que espatifou um pouco nos municípios. Flaviano quer ser candidato ao Senado, como Gladson também quer. E Petecão sonha disputar o governo. Ninguém na oposição abre mão dos projetos particulares.

Nenhum comentário: