sábado, 5 de janeiro de 2013

Governo libera R$ 738 milhões sem conhecer 'epidemia' de crack


Pesquisa que embasa programa custou R$ 6,9 milhões e não está pronta.
Governo admite desconhecer a realidade, mas diz que projeto é 'prioritário'.


O filósofo chinês e estrategista militar Sun Tzu, famoso pelo livro "A arte da guerra", já dizia, cinco séculos antes de Cristo, que é necessário conhecer o inimigo para ganhar uma guerra. Um ano depois de o governo federal lançar o programa "Crack, é possível vencer", destinando R$ 4 bilhões até 2014 para combater o avanço da droga no país, o inimigo permanece uma incógnita.
(O G1 publica, nesta semana, uma série de reportagens sobre o consumo de crack e como é feito o tratamento de dependentes. Foram ouvidos os órgãos públicos responsáveis pelo atendimento aos usuários e pelo combate ao vício, como o Ministério da Saúde e Secretaria Nacional de Segurança Pública, além de pesquisadores, médicos e pacientes. O governo federal liberou recursos para estados e municípios sem conhecer a dimensão do problema.)
Números exclusivos obtidos pelo G1 apontam que, em 2012, o governo liberou R$ 738,5 milhões para combater o que considera uma epidemia. Desse montante, R$ 611,2 milhões foram para o Ministério da Saúde, R$ 112,7 milhões para o Ministério da Justiça e R$ 14,6 milhões para o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

O dinheiro, porém, pode estar sendo gasto às cegas. Apesar de admitir que considera a droga uma "epidemia" no país, o governo reconhece que não sabe o perfil dos usuários nem onde eles estão nem qual é a melhor forma de tratá-los (leia abaixo). "Estamos rastreando e assumindo isso, mas não é fácil mensurar, porque é um problema que não temos dimensão e ainda descobrindo qual é a melhor política pública para combatê-lo, mas estamos correndo atrás", diz Helvécio Magalhães, secretário nacional de Atenção à Saúde e responsável pelo tema do crack no Ministério da Saúde.
O plano "Crack, é possível vencer", do governo federal, prevê aplicação de R$ 4 bilhões até 2014 em ações contra o avanço da droga no Brasil.
O governo demorou a responder sobre o problema do crack e acho que ainda não respondeu. Acho tudo isso uma enrolação"
Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade
de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp
É possível vencer?
Lançado em 7 de dezembro de 2011, o plano "Crack, é possível vencer" prevê um trabalho conjunto entre os governos federal, estaduais e municipais nas áreas da saúde, segurança pública, defesa de fronteiras e assistência social.
Apesar de ser um ponto de partida para resolver o problema, ainda há grandes desafios a serem vencidos, segundo especialistas e integrantes do governo. 

O crack é uma pedra branca, derivada da cocaína, geralmente queimado em cachimbos para ser consumida. Os efeitos são sentidos em minutos e passam rápido, provocando problemas neurológicos, respiratórios, entre outros. O elevado grau de dependência faz com que os usuários gastem muito dinheiro para manter o vício e, em alguns casos, passem a morar nas ruas e viver uma rotina de consumo coletivonas chamadas cracolândias.
Até agora, 13 estados e o Distrito Federal aderiram à parceria com o governo federal para combater o crack, permitindo a abertura de 574 novos leitos, 4,1% dos 13.868 que a área da Saúde quer criar até 2014. Pelo acordo, estados e municípios recebem recursos para capacitar profissionais e construir unidades de atendimento aos dependentes, além de equipamentos para policiais e guardas municipais.
Ao assinar a parceria, o estado se compromete a adotar as "regras" do Planalto no combate ao crack: realizar internações involuntárias (contra a vontade) quando um médico vê risco de vida para o paciente e concentrar esforços no tratamento do usuário, não na repressão policial.
FONTE: g1.globo.com

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